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Escrito por Ángel Manuel Rodríguez
Por que algumas pessoas dizem que o título “Deus” em Tito 2:13 não se refere a Jesus? A passagem parece ser muito clara: “Enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (NVI).
Às vezes o que é óbvio para uma pessoa não é tão óbvio para outra. Por que? Porque muitas vezes trazemos para a nossa leitura da Bíblia algumas ideias e convicções pessoais.
Neste caso em particular, uma pessoa que conclui, com base em sua leitura de outras passagens bíblicas, que Jesus não é Deus fará um esforço para trazer esta passagem em concordância com essa convicção. Aqueles que concluírem que Cristo é Deus argumentarão o oposto.
Não há nada de errado em usar o ensinamento bíblico geral sobre um tema para formar e influenciar nossa interpretação de uma passagem particularmente problemática. No entanto, devemos sempre estar abertos à possibilidade que nossa compreensão geral de um conceito bíblico pode não ser necessariamente correto. As passagens que não parecem estar em harmonia com nosso pré-entendimento podem servir para corrigir visões errôneas ou desequilibradas.
Sempre que um ensinamento bíblico for claramente discernível, uma tentativa de harmonizar as passagens difíceis com ele seria apropriado. Nesses casos, temos que prestar muita atenção à linguagem utilizada pelo autor e os antecedentes históricos, religiosos e culturais que podem ter motivado o autor a expressar a ideia de uma forma que pode parecer estar fora de equilíbrio com a perspectiva bíblica predominante. Tal investigação pode resultar numa harmonização exegeticamente sólida ou no reconhecimento de que a passagem pode não ser suficientemente clara para contradizer ou apoiar o ensino geral das Escrituras. Então esperamos por mais evidências ou novos discernimentos que resolvam a tensão aparente.
Vejamos Tito. 2:13. A questão central é: os títulos “o grande Deus e Salvador” estão se referindo a uma pessoa, Jesus, ou temos aqui uma referência primeiro ao Pai e depois a Jesus como Salvador? A Versão King James assume a segunda opção: “o grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo.”
Aqui está uma tradução literal da frase em consideração: “o grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo.” De um ponto de vista gramatical a passagem poderia ser compreendida em qualquer uma das duas maneiras. O artigo “o” poderia ser conectado apenas com “grande Deus” e não com “Salvador.”
Como decidimos? Pode-se argumentar que, em geral, o Novo Testamento evita chamar Jesus de Deus. No entanto, existem algumas passagens nas quais Ele é chamado de Deus (2Pe 2:20; Jo 20:28), e esta poderia ser mais uma delas. Além disso, a gramática Grega indica que se tivermos um artigo definido (“o”) e dois substantivos ligados pela conjunção “e” o artigo governa ambos os substantivos. Em outras palavras, “o grande Deus e Salvador” está designando uma só pessoa, mais definida na sentença como “Jesus Cristo.” Esta seria a maneira mais natural de ler a passagem no original Grego.
Um argumento que derruba o equilíbrio é o uso do substantivo “manifestação.” Esse substantivo sempre se aplica a Jesus em o Novo Testamento e não ao Pai (1Tm 6:14; 2Tm 1:10; 4:1, 8; 2Ts 2:8). Igualmente importante é o que é dito em Tito 2:14, onde ele sugere que no verso anterior Paulo não estava falando sobre duas Pessoas diferentes (o Pai e o Filho), mas sobre uma. Ele desenvolve o pensamento dizendo aquele (nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo) “que se entregou para nos redimir” (NVI).
Também sabemos que a frase “Deus e Salvador” era empregada em contextos religiosos pagãos como um título religioso usado para designar apenas uma pessoa, uma divindade pagã em particular. Paulo pode ter usado esses dois títulos para afirmar em termos inequívocos que Jesus Cristo é o único verdadeiro “Deus e Salvador,” e que num momento determinado Ele aparecerá em toda Sua glória àqueles que Ele redimirá.
Embora a sentença pudesse ser interpretada quer como uma testemunha da divindade de Jesus ou como uma referência ao Pai e ao nosso Salvador, uma análise contextual sugere que a interpretação mais provável e mais correta é a primeira.