O Espírito Santo, Doença E Cura

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Escrito por Ángel Manuel Rodríguez

Há uma opinião de que se persistirmos em nossas orações pelos enfermos, o Espírito Santo virá como um poder de cura e não haverá necessidade de chamar um médico. Devemos consultar médicos ou não?

Há um interesse crescente entre alguns Adventistas sobre a natureza e o papel do Espírito Santo. Questões relacionadas à personalidade e à individualidade do Espírito estão sendo debatidas, motivadas pela oposição à doutrina da Trindade. Ocasionalmente o poder do Espírito é enfatizado e o resultado é um tipo de visão carismática popular da função do espírito. Alguns sugerem que, em resposta às nossas orações pelo doente, Deus enviará o Espírito como um poder curativo, tornando-se quase desnecessário consultar os médicos. A ideia é que se perseverarmos na oração com fé, o poder do Espírito será manifestado. Esta é uma ênfase perigosa que poderia causar sérios danos espirituais, psicológicos e físicos para aqueles que estão doentes.

A fim de evitar mal-entendidos, permitam-me reafirmar que, obviamente, não queremos rejeitar a visão Bíblica de que Deus pode responder às nossas orações e curar aqueles por quem oramos (Tg 5:13‐15). Mas isso não exclui o uso da sabedoria que Deus nos concedeu na luta contra as doenças. Essa luta faz parte do conflito cósmico, e Deus e os seres humanos estão diretamente envolvidos nele. Ele espera que façamos a nossa parte através da medicina preventiva e busquemos maneiras de restaurar a saúde usando abordagens racionais.

O tema da intervenção direta de Deus nos assuntos humanos em resposta às nossas orações pelos enfermos levanta importantes questões teológicas. Aqui eu só posso tocar em algumas das preocupações. Ao lidar com essa questão particular, devemos perceber que Deus interage conosco em pelo menos três maneiras diferentes.

Primeiro, há a maneira dramática, sobrenatural em que Ele vem do lado de fora e pessoalmente, diretamente, e altera radicalmente a situação. O caso da abertura do Mar Vermelho durante o êxodo do Egito seria um bom exemplo da irrupção do transcendental nos assuntos humanos, a fim de trazer livramento (Êx 14:21‐22). Em casos como esse, havia geralmente uma exibição gloriosa do poder de Deus, e a pessoa envolvida experimentava livramento ou cura de uma maneira única (cf. 1RS 17:20‐22). O que muitas vezes é esquecido é que este tipo de intervenção divina nos assuntos humanos inequivocamente não é a forma predominante das intervenções de Deus encontradas na Bíblia.

A segunda maneira que Deus intervém em resposta às nossas orações é menos óbvia, mas ainda reconhecível. Ele opera de dentro da situação, orientando e usando seres humanos — seu conhecimento, experiência e disposição — para responder às nossas orações. Isto é ilustrado no livro de Ester, onde o livramento aparentemente vem através das ações dos seres humanos. Mas, quando a história se desenvolve, torna-se evidente que Deus estava envolvido no processo do começo ao fim (cf. Et 4:12‐14; 8:17; Gn 14:14‐16, 20). Ele está ativo sob o aparente manto do silêncio, produzindo em um momento particular uma virada inesperada dos acontecimentos. Em muitos casos, a instrumentalidade humana pode ser mais visível, mas para aquele que orou a solução é claramente a resposta de Deus ao pedido. O tempo da cura, as coincidências, a súbita reversão da experiência ameaçadora, bem como o reconhecimento de que o poder humano praticamente estava fora das opções, confirmam a convicção da fé de que era Deus que silenciosamente intervinha produzindo um milagre maravilhoso de amor através de instrumentalidades humanas ou outros meios (e.g., Is 38:21; Lc 10:33‐35). Este tipo de “milagre” é hoje muito mais comum entre o povo de Deus do que percebemos.

A terceira maneira que o Espírito intervém respondendo às nossas orações pelo enfermo é criando no coração humano uma disposição humilde para confiar na vontade amorosa de Deus para nós. A nossa oração pela cura do enfermo pode estar em conflito com a vontade de Deus para com a pessoa (cf. Mt 6, 9, 10). Tal conflito não significa que Deus não esteja interessado no seu bem-estar. Significa simplesmente que a intenção divina e amorosa não coincide com os nossos desejos pessoais. Em tais casos, nós simplesmente confiamos em Seu amor e sabedoria sabendo “que em todas as coisas Deus opera para o bem daqueles que o amam” (Rm 8:28). O importante é lembrar que no eschaton Deus responderá a todas as nossas orações pelo enfermo trazendo o sofrimento e a morte a um fim (Ap 21:4).

Qualquer um que argumenta que o poder restaurador do Espírito torna praticamente irrelevante a intervenção de cuidado médico adequado faz um desserviço ao enfermo e distorce o ensinamento bíblico sobre a oração pelo enfermo e o trabalho do Espírito.