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Escrito por Ángel Manuel Rodríguez
Qual é o propósito do jejum religioso? Para algumas pessoas eu sei, ele parece quase um ato meritório.
Sua pergunta diz respeito a uma prática religiosa que não parece ser tão comum na igreja e na vida do membro individual como ela costumava ser. Examinemos as passagens e narrativas bíblicas onde a prática é mencionada.
1. Prática e Tipos de Jejum: O jejum necessariamente não é abstenção total de alimento e bebida. Em alguns casos foi abstenção total por um período prolongado, mas nesses casos o próprio Deus pareceu ter sustentado a pessoa (Êx 34:28; cf. Mt 4:2). Algumas pessoas jejuaram por períodos curtos sem comer e beber (Et 4:16; At 9:9). Porém um jejum normal provavelmente permitia beber água a fim de evitar o risco de desidratação (Lv 23:14), especialmente num clima quente, e abstenção de alimento apenas durante as horas claras do dia (2Sm 1:12; 3:35) – semelhante ao moderno jejum Muçulmano durante o Ramadã. Jejuar durante a noite parecia ter sido incomum (Et 4:16). A Bíblia também menciona jejuns parciais, que consistiam de consumo de quantidades limitadas de alimento simples (Dn 10:2, 3).
A extensão do jejum varia. Lemos sobre jejuns de 40 dias (Dt 9:9), sete dias (1Sm 31:13), três dias (Et 4:16), um dia (2Sm 3:35), e possivelmente um jejum noturno (Dn 6:18). Existiram jejuns comunitários: Deus ordernou os Israelitas a jejuarem durante o Dia da Expiação (Lv 16:29); ocasionalmente os líderes pediam para o povo jejuar (Jz 20:26; 2Cr 20:3); ou os profetas conclamavam para um jejum (Jl 2:12, 13). Porém, o jejum particular era uma prática mais comum.
2. Conceitos Associados Com o Jejum: Jejuar está intimamente relacionado a orações de cura e livramento (Sl 35:13) e à adoração (At 13:2); mas ele também é praticado no contexto de uma calamidade presente ou futura (Et 4:1-4), no choro (2Sm 1:12), na escolha de líderes da igreja (At 13:2, 3), como um sinal de arrependimento (Jn 3:5) e como uma expressão de devoção a Deus (Lc 2:37). Jesus condenou o jejum de ostentação que tinha o propósito de impressionar os outros com a espiritualidade da pessoa. Ele encorajou o jejum secreto (Mt 6:16-18).
3. O Significado Básico do Jejum: É difícil encontrar um propósito fundamental para jejuar presente em todas essas expressões, porém um chega muito perto do que é ideal. O jejum parece ser uma expressão exterior do total comprometimento interior da pessoa e confiança no poder preservador e resgatador de Deus. A Escritura descreve os humanos como unidades únicas de vida autoconsciente inseparáveis de suas formas corporais. Sentimentos e emoções não são simplesmente experiências interiores que temos separadas do corpo; elas são intrinsicamente relacionadas à nossa corporalidade e se expressam nela. Não existe maneira de expressar sentimentos, emoções e religiosidade senão em nossa existência corpórea.
Deus deve ter informado Adão e Eva que eles teriam que cooperar com Ele na preservação de suas vidas através da ingestão de alimento (Gn 1:29). Uma má vontade para comer ou comer alimento impróprio indicaria má vontade para se submeter ao Seu plano para eles (Gn 2:9). Tal atitude deveria ser uma expressão corpórea/física de um espírito de rebelião. Consequentemente, o jejum pareceria indicar uma má vontade para cooperar com Deus na preservação de nossas vidas.
Contudo, a Bíblia indica o jejum como uma expressão apropriada de devoção e comprometimento com Deus. Nesse caso a privação de alimento não é uma expressão de rebelião, mas um reconhecimento que no final das contas a vida só pode ser preservada por nosso Criador e Redentor. Ao jejuar, colocamos nossas vidas exclusivamente sob o cuidado misericordioso de Deus. Ele expressa um comprometimento absoluto, uma entrega amorosa e confiante de nossas vidas a Deus como o único que pode nos resgatar da opressão do pecado.
Finalmente, quando jejuamos nos identificamos com a necessidade do oprimido e permitirmos que Deus nos use para enriquecer suas vidas (Is 58:6, 7).
Meritório? Não existe nada de meritório na entrega. O jejum é para dizer a verdade um reconhecimento de nossa necessidade diante de Deus.