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Escrito por George W. Reid
Uma breve revisão da abordagem padrão da interpretação bíblica Adventista.
Dificilmente existe um assunto mais sensível entre as discussões Adventistas do que a questão sobre como trataremos a Bíblia. Ele se encontra próximo do centro do que importa mais profundamente, porém existe variação entre nós.
Duas questões fundamentais são dignas de serem examinadas, ambas essenciais para o sangue vital do movimento Adventista. Primeira, existe uma hermenêutica Adventista do Sétimo Dia? Segunda, assumindo que a primeira pergunta seja respondida afirmativamente, podemos confirma-la? Livres do comprometimento com a situação atual, continuamos prontos para examinar, numa base recorrente, qualquer premissa aceita anteriormente, fazendo com que mantenhamos em mente que nosso entendimento sempre é parcial se ele for misturado com a razão humana como um componente. Embora aceitemos aquilo que Deus tem revelado, quanto ao nosso entendimento devemos examinar os méritos de cada caso.
Lidando com a nossa primeira questão, podemos dizer que existe uma hermenêutica Adventista do Sétimo Dia? Antes de 1950 existia unidade considerável sobre conceitos básicos, embora nem sempre produzindo o mesmo resultado. Alguém podia citar o rei do norte, Armagedom, e algumas vezes discussões desconexas sobre Daniel 11. Contudo, havia acordo sobre coisas básicas, concordância que as Escrituras são registros válidos, autênticos dos atos de Deus na experiência humana e além, que elas continuam fidedignas e sendo a corte de apelo final.
Segundo, elas eram entendidas totalmente de forma literal a menos que evidência coerciva sugerisse contrariamente, e.g., construções poéticas óbvias, passagens alegóricas, figuras de linguagem literárias, símbolos proféticos, e estruturas tipológicas.
Os contextos bíblicos recebiam muita atenção o que produziu crescimento rápido do interesse Adventista na história e arqueologia bíblicas do Oriente Médio, incluindo diversos empreendimentos empresarias infelizes em busca da arca. Era desejado que o estudo dos contextos iluminasse as Escrituras e reunisse evidências de sua confiabilidade, não para fornecer alguma coisa útil para reinterpretar ou conjecturar ideias das origens ou dos ensinamentos bíblicos. A teologia transcendia a sociologia, antropologia e estudos críticos, todos os três neste ponto já com 150 anos de existência.
Os Adventistas mantinham uma opinião elevada sobre a Escritura, abordando-a com sentimento de respeito às vezes beirando a reverência. Seu significado era realçado pelo estudo da história e estruturas gramaticais. Os estudantes da Bíblia aceitavam as afirmações substanciais das Escrituras, dando a cada um seu devido peso.
A influência de Ellen White foi importante, mas não definitiva. Onde ela fez afirmações firmes a respeito do significado, a interpretação foi significativamente influenciada, embora não determinada por sua afirmação. Em geral, esta era a estrutura principal da hermenêutica Adventista do Sétimo Dia.
Isso descrito acima hoje é criticado por críticos internos como ingênuo, uma observação provavelmente válida até certo ponto. De muitas maneiras a hermenêutica Adventista tem sido violentamente criticada por críticos não Adventistas. Inquestionavelmente chegamos a certas conclusões que mais tarde ponderação avaliada as descontinuou; por exemplo, a construção de prova para a moderna observância do Sábado baseada numa passagem em Hebreus 4 e confiando na frase “não passará esta geração” de Mateus 24:34 como um tempo marcador para a parousia. Tais abusos precisavam de correção e a receberam, porém problemas pontuais dificilmente são bases para desmontar todo o mecanismo hermenêutico construído durante uma longa experiência. A real questão não é: Existem erros? Mas, o todo é sólido? Ela era uma ajuda ou obstáculo para se descobrir a vontade de Deus?
Hoje enfrentamos um quadro muito diferente. Outra escola de pensamento tem se desenvolvido sobre premissas diferentes. Ela afirma que embora a hermenêutica Adventista tradicional possua aspectos bons, agora é necessária revisão em vez de diretrizes diferentes. (1) A nova hermenêutica deve ser designada para lidar com questões problemáticas, os “assuntos” que uma vez estruturados aumente nossa compreensão das linhas principais do ensinamento bíblico. (2) Além disso, ela deve fatorar nos desafios recentemente descobertos extraídos das ciências sociais e mesmo das ciências físicas e ajustar sua compreensão (interpretação) adequadamente. (3) A nova hermenêutica deve dar maior peso ao contexto cultural cujas influências moldam os elementos do texto bíblico e sua teologia. (4) Deve ser reconhecido que o texto tem um desenvolvimento histórico e consequentemente se ajusta ao que pode ser aceito como sólido, dada a premissa que influências sobre a formulação do texto devem ser reconsideradas em cada estágio de desenvolvimento. (5) Deve ser reconhecido que nossos preconceitos contemporâneos impõem significados ao texto, pondo em questão a ideia que o leitor pode estudar um documento antigo e baseado nisso chega a alguma orientação específica para hoje. Isto exige um nível interpretativo mediando entre o antigo texto e a aplicação contemporânea, um que abstraia do texto conceitos que com cuidadosa consideração possam ser usados no contexto moderno. O nível de mediação requer uma análise racional que dispense toda a possibilidade que um ensinamento possa se transferir diretamente do antigo texto para hoje. (6) Devemos deixar de permitir que a doutrina exerça uma influência tão grande no significado do texto. Cada texto deve falar por si mesmo sem excessivo sombreamento tirado de outros textos ou de personalidades bíblicas com autoridade que nos digam o que ele deve significar. (7) Deve ser dado peso à natureza mutante da verdade revelada, “verdade presente” movendo-se nas configurações que curiosamente coincidem bem com o sistema de valores contemporâneos tão pesadamente endividados com o Iluminismo humanista.
Infelizmente a teologia é um empreendimento que caminha rápido. Alguém com 30 anos de experiência com ela tem testemunhado o desenvolvimento e declínio de pelo menos cinco ou seis “teologias,” cada uma aclamada como resposta, porém lançada sem alarde à obscuridade poucos anos mais tarde, deixando, no entanto, um toque residual naqueles que a abandonam. Existencialismo, teologia Deus está morto, teologia da esperança e outras que abriram caminho para a teologia da libertação, e agora uma teologia de administração (ecologia) cada uma dependendo de uma revisão do significado do texto bíblico.
O resultado é que temos entre nós hoje duas hermenêuticas, uma abordagem histórica Adventista com pequenas modificações, a outra uma hermenêutica baseada numa modificação substancial, uma envolvendo modalidades proeminentes no criticismo histórico, mas purificando suas pressuposições humanísticas mais óbvias tal como a negação do sobrenatural.
A realidade desta dicotomia é bem ilustrada pela sequência de discussões no Concílio Anual de 1986 para aprovar um documento intitulado “Métodos de Estudo da Bíblia.” Embora a parte principal do documento fosse preenchida com sugestões práticas de uso especialmente para leigos, três parágrafos do preâmbulo tratavam do criticismo histórico.
Dentro dos dois meses seguintes à sua aprovação o documento foi censurado num encontro nacional de professores de Bíblia Adventistas, muitos dos quais apresentaram forte objeção à rejeição do documento do método crítico histórico, especialmente à sentença: “Mesmo um uso modificado deste método que retenha o princípio do criticismo que subordina a Bíblia à razão humana é inaceitável para os Adventistas.” O preâmbulo do documento foi apimentado, por bem mais de uma hora, com críticas vigorosas, apesar de que uma resolução de rejeição proposta fosse abandonada como imprudente. Vários oradores acusaram a comunidade acadêmica de ter negado voz na formulação deste documento. No entanto, correspondências vindas dessas pessoas sobre este assunto, foram encontradas mais tarde nos arquivos do Instituto Bíblico de Pesquisa. A questão não foi sobre um não envolvimento, mas sim sobre o outro ponto de vista que foi adotado.
O ponto crucial da questão encontra-se no fato que se a mistura da abordagem Adventista histórica com o criticismo histórico é possível. Alguns argumentam que muito no criticismo histórico é útil na exegese e na teologia. Em última análise, uma grande quantidade de questões repousa sobre a indagação se o criticismo histórico é um sistema ou mais uma associação de técnicas isolada que pode ser traçada pragmaticamente de acordo com sua utilidade.
A comparação revela que os dois sistemas possuem elementos em comum, porém existem diferenças significativas no modo em que os elementos comuns são usados. Observe a função do contexto histórico nos estudos. Devemos rejeitar a posição mais radical que mitologia todos os relatos bíblicos ao ponto de desconsiderar sua autenticidade. Nenhum ramo da prática hermenêutica entre os Adventistas defende tais extremos. Como observado anteriormente, a hermenêutica Adventista histórica mantém interesse elevado no estudo do contexto como uma base para a compreensão dos costumes do cenário do qual os livros da Bíblia vêm, do valor da luz que eles lançam sobre as Escrituras.
O criticismo histórico também dedica muita atenção aos contextos, porém existe uma profunda diferença entre os usos. A hermenêutica histórica Adventista procura saber como o contexto contribuiu para eventos e ensinamentos quando o Espírito Santo transmitiu o conteúdo concedido divinamente dentro de um determinado ambiente. O crítico histórico ao contrário continua tentando saber como uma interpretação dos eventos como relatados na Bíblia poderia ter surgido do contexto tal como o conhecemos. Isto é tratado como um processo normal dentro de uma certa cultura. Tal abordagem pode estar querendo conceder uma visão existencial ou até mesmo mística da parte da pessoa que está nos transmitindo o relatório.
Embora o criticismo histórico e a hermenêutica Adventista tradicional compartilhem alto interesse nos estudos dos contextos, quanto elas realmente têm em comum? Apenas incidentalmente, pois os propósitos são diferentes. Embora a hermenêutica Adventista histórica realize certas funções do criticismo histórico também realiza, o objetivo e uso para os quais estas funções são aplicadas de formas tão divergentes que dificilmente podemos classifica-las como funções compartilhadas. Apenas em níveis mais técnicos encontramos semelhança. Quando interpretamos o significado entramos imediatamente em áreas controladas por pressuposições reguladoras, que para o método crítico estão em conflito com o respeito verdadeiro pela palavra de Deus. Como um sistema, o criticismo histórico está em tal contradição com a auto revelação de Deus que nenhuma fusão ou mistura de sistemas é possível sem grave risco para uma fé genuinamente bíblica.
Dois elementos adicionais são merecedores de breve atenção. O primeiro é a epistemologia, em essência como conhecemos alguma coisa. A investigação aqui nos conduz a questões mais fundamentais ainda, pois ela mensura os blocos de construção do significado, tanto no nível pessoal como no da visão do mundo. Alguns têm rotulado este campo de teologia filosófica, um título proibitivo se é que já existiu algum.
Estão acontecendo mudanças importantes. Estruturas de pensamento que já duram 400 anos estão se separando. O pensamento contemporâneo repousa sobre um sistema filosófico baseado no (1) naturalismo, a premissa que o nosso meio, estudado apropriadamente, pode produzir entendimento satisfatório sem referência a Deus, (2) otimismo, a premissa que desde que os humanos são capazes de entender, o entendimento conduz ao progresso inevitável, (3) objetivismo, o conceito que o estudo do nosso ambiente deve ocorrer de uma maneira livre da opinião subjetiva, governada por leis precisas, e (4) materialismo, nesta configuração significando que tudo o que é importante fica dentro do tempo e do espaço e pode ser analisado com níveis elevados de precisão, especialmente com ferramentas matemáticas.
Atualmente aqueles cientistas em contato com o universo em suas extremidades, com físicos astronômicos e nucleares na liderança, estão apresentando relatos de um universo de tais proporções que deve ser postulada a existência de uma mente organizadora por trás da natureza se o que pode ser observado deve ser coerente. Apesar do equilíbrio pontual da balança evolucionária, os biólogos permanecem anos luz atrás.
Além disso existe uma percepção crescente da corruptibilidade humana. Uma humanidade que pode vencer a varíola, parece incapaz de conter a ganância humana que atrai a civilização para cada vez mais perto da auto aniquilação. Michael Polyani e Thomas Kuhn, nenhum dos dois contaminado com o Cristianismo recém-nascido, têm conspirado para realizar uma demolição da suposta objetividade da ciência que exige um novo exame dos seus fundamentos.
Vozes da comunidade contemporânea agora estão apelando pelo retorno do sobrenatural às metodologias modernas. Estas tendências são aceleradas pelo colapso generalizado da teoria Marxista, que era a culminação lógica do sistema modernista.
Aqueles que trabalham com a hermenêutica bíblica devem prestar atenção nestas mudanças radicais, pois seu impacto no futuro imediato será profundo. É irônico que alguns entre nós, gerações mais tarde embarcando na popularidade modernista, se mantêm a bordo justamente quando toda a geringonça começa se desintegrar.
Em última análise, um critério importante para decidir que hermenêutica deve ser seguida reside em seus frutos. Nossa hermenêutica leva a uma experiência Cristocêntrica na qual a palavra testifica de Ele? Ela produz uma compreensão mais clara do que a palavra realmente diz? Ela mostra a perda catastrófica da humanidade e a magnitude do resgate realizado por Deus, bem como um maior entendimento global de Sua soberania sobre todos?
Ela constrói um forte senso de missão, desejo de unidade na igreja e zelo ardente para alcançar nossos semelhantes? Ela leva a um crescimento numérico e espiritual da família de Deus e fornece força prática para se opor à tentação? Ela conduz a uma determinação de estar preparado para o breve retorno de Jesus? Tal hermenêutica carrega as marcas de ser genuinamente Adventista e fornecerá a estrutura para um entendimento crescente da vontade de Deus.