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Escrito por Ángel Manuel Rodríguez
Em uma de suas colunas você discutiu a união do ser humano e o divino em Cristo. Por favor, diga-me como a visão Adventista da Encarnação corresponde à de outros Cristãos?
Esta não é uma questão bíblica, mas sua resposta será baseada em critérios bíblicos. Resumirei a visão predominante entre os Cristãos, em seguida, tentarei resumir o que os Adventistas dizem sobre o tema. Claro, com um mistério tão profundo como este, há espaço para discordância.
1. Controvérsias Cristãs e Uma Tentativa Para Solução:No início da história da igreja Cristã, a pessoa de Cristo tornou-se um tema de debate acalorado. Alguns sugeriram que Cristo era duas pessoas – um ser humano e Deus – em um só corpo humano. Outros argumentavam que Ele era uma pessoa com apenas uma mente ou espírito – o divino. Outros ainda sugeriam que a natureza divina e a humana se fundiram, resultando em um terceiro tipo de natureza, tornando Cristo nem totalmente humano, nem totalmente divino.
Em uma tentativa de resolver a controvérsia, um concílio eclesiástico foi convocado em 451 na cidade de Calcedônia (perto da moderna Istambul, Turquia). O concílio apresentou uma declaração conhecida como a Definição Calcedoniana. Ela afirmava, entre outras coisas, que Cristo era “verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem,” que Ele possuía duas naturezas em uma pessoa, e que “a distinção de naturezas” não foi “de modo algum afastada pela união” (Philip Schaff, Creeds of Christendom, vol. 2, pp. 62, 63). Embora ainda seja debatido se esta era uma verdadeira definição, as ideias fundamentais que ela contém têm sido aceitas pela maioria dos Cristãos.
2. Os Adventistas e as Duas Naturezas de Cristo:Os Adventistas têm concordado com esta definição porque a consideram compatível com as informações bíblicas sobre a encarnação de Deus em Cristo. É verdade que a teologia da declaração vai além do que é explicitamente afirmado na Bíblia, mas ela ainda permanece dentro dos parâmetros da revelação divina. Que Cristo era totalmente divino e totalmente humano é um fato bíblico. Adoramos a Deus na carne humana, não duas pessoas – uma divina e uma humana – em um só corpo. Senão, adoraremos um ser humano! Concordamos que “as duas naturezas fundiram-se misteriosa-mente numa só pessoa” (Ellen G. White, Exaltai-O, p. 77). Mas nesta união a natureza divina “não foi humanizada; nem a humanidade foi deificada pela mistura ou união das duas naturezas; cada uma manteve seu caráter e propriedades essenciais “(Manuscript Releases, vol. 16, p. 182). O Filho de Deus, de fato, tomou a natureza humana sobre Si na encarnação.
3. Implicações da União das Duas Naturezas:O fato de as duas naturezas permanecerem distintas implica que na Encarnação existem duas vontades. Isto nos ajuda a entender a possibilidade que Jesus poderia ter caído em tentação. Deus não pode ser tentado a pecar, mas a natureza humana poderia. Também nos ajuda a entender que, embora a natureza divina fosse onisciente, a humana não era. A natureza humana de Cristo tinha um conhecimento limitado e crescia na compreensão da natureza e da missão do Filho de Deus (cf. Lc 2:52). O elemento do mistério permanece porque mesmo que haja duas naturezas, ainda há uma pessoa.
Desde que o humano e o divino estavam unidos, o que a natureza humana experimentou também foi experimentado pela divina. Aqui devemos fazer algumas distinções cuidadosas. Por favor, permaneça comigo. A natureza divina experimentou os sentimentos, as emoções, as lutas e as tentações da natureza humana. Por exemplo, quando a natureza humana estava sedenta, a natureza divina experimentou de uma forma única e direta o que significava para os seres humanos ter sede, ou fome, ou tentado, etc. A totalidade da Pessoa experimentava essas sensações. Por outro lado, quando a natureza divina usava o poder divino para curar, a natureza humana tornava-se o veículo através do qual esse poder atingia a outro. Quando uma mulher enferma tocou o manto de Jesus e foi curada, Jesus percebeu “que poder tinha saído Dele” (Mc 5:30). O poder do Filho de Deus curou a mulher, mas a natureza humana de Cristo experimentou de maneira singular um poder divino que não possuía em Si mesmo. Este foi o resultado da união das duas naturezas.
Existem muitas outras implicações dessa união, mas estas servem para ilustrar o significado do maior mistério do universo.